Roberto Curi Hallal

VOLTAR AMANDO

ESTRANHO SUAVEMENTE

Torno melodiosa a suavidade com que te estranho, di- rijo minha melancolia fazendo de conta que ela é na- tural, como se fosse sucessora do amor vivido, apren- dido, antítese do efêmero. Cadências suaves brotam dentro de mim. Faço-me principal convidado da festa à vida que faz menção às memórias, aos acertos, aos encontros, aos devaneios. Tal trânsito marca os olhos, arranca palavras dos livros, tira a cor das pinturas, de- para-se com o belo, se extasia com o inominável que restitui a vontade, o louvor e a procura da história que todas as lembranças guardam.

Devo acostumar-me desde logo às ilusões e desilusões, às esperanças que se cansam diante das reiteradas de- cepções. A vida segue acalentando tristes dias, mene- ando letras, novos usos, palavras, críticas favoráveis, alguma literatura, poucos sorrisos, meneios que coin- cidem com o profundo e o supérfluo, dando sabor à mágoa e à surpresa. Agitado, trato de assuntos alheios, finjo interesse e aceitação, levo a cabo um reconheci- mento que me fixa no meu lugar, nos meus interesses. Enfim, só.

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Escritos do Eu

© 2018 Roberto Curi Hallal