NUR
NÃO INVENTEI
Não inventei o perigo, portanto não precisarei inventar a salvação. Ao invés de pôr-me a salvo, não fugirei. Nego-me a oferecer minha esperança em sacrifício, partilhar todo o estoque, renunciar ao difícil. Execrarei os engodos, as sintonias, os insípidos amores, as inóspitas histórias, os espetáculos infelizes, a fascinação pelo mórbido. Porei cada coisa no meu estreito lugar, sei da eficácia dos sofrimentos. Secada a água dos oásis me resta plantar no deserto.
MOVO VELAS
Ponho a sede no cofre, bebo o estado de espírito, generalizo os lamentos, travando uma luta constante com as alegrias. Raras vezes provoco a paz tão desejada. Reduzo o espírito de porco, amanso o espanto, encho de arrepios o pavor, hospedo todos os vazios, aperfeiçoo o ato e a intenção, mergulho lá onde me escondo. Movo as velas nas calmarias, abandono os remos, corto a corrente marinha. Faço tudo isso, não sei por quê.
Escritos Fenícios
© 2018 Roberto Curi Hallal