MOTIVOS CICATRIZANTES
Não tivesse eu deixado vestígios dos meus passos, já nada haveria; minhas mil emoções não houvessem composto uma história, tantos afagos teriam ficado apenas imaginados.
Em que versos cabem minhas penas, as dores que se cravam no meu peito quando vejo a pobreza cravada na infância, assassinando as inocências.
Meu passado tem ruas escuras, sangas com sapos cantores, insistentes passos e um assovio sonorizando meus medos. Meu passado carrega sonoras serenatas encravadas na minha juventude.
Dou sossego aos olhos, eles não repetem duas vezes o que alguma vez me disseram, atravessam os espaços querendo ajudar a preencher o sem-sentido. Ao borde dos motivos que olham os restos, por meio próprio veio o olhar suspirando visões convenientes. Os olhares seguros sobem ao tocar o cume onde descansam as graças, avisam-se, fugazes, avançam como as nuvens, nunca se repetem, passam abrindo novos caminhos.
Quem coordenou o canto das sereias? Que tolerância estendeu suas esperas? Que certeza nas naus retornando? Que nelas viriam seus amores mantendo as mesmas cenas? Que acordo se sustentou sem desistências?
Alhures
© 2022 Roberto Curi Hallal