POR DETRÁS DO OTIMISMO
Escondo-me por detrás do otimismo. Escrever depois de uma pandemia, bombardeados, condenados por radicalismos, esse terrível momento dramático remete a ver de frente a morte, a vulnerabilidade, a arrogância e a derrota da finitude. Não sou suficientemente eufórico para festejar o ocorrido como uma promessa de um futuro mais extraordinário e a oportunidade da humanidade sem maiores esforços e elaborações recuperar a humanização em sua plenitude e o egoísmo civilizado abrirá as portas ao altruísmo e eliminará o vício do triunfo.

O INDOMÁVEL TEMPO
Não dominei o tempo, sempre que pensei nele não acertei a previsão, não morri nas várias vezes que a morte andou por perto, não morri com as ameaças próprias e alheias, vacinado contra as pragas, o tempo não curou as doenças, nem meu vizinho corrupto ficou culpado, não dominei o tempo de vida das crianças abortadas, nem ver o tempo da Palestina ter recuperada suas terras usurpadas. Ver o mundo com menos injustiças, ver o projeto da humanidade terminado, realizado, instalada a paz e o respeito de um aos outros.