CICATRÍZES
CANÇÃO DE NINAR
Quanta inocência dorme ali com ela? Quantos sonhos cabem na sua cabeleira desatada? Seus gemidos de dor ou de prazer declaram a dúvida sem resposta que toma o caminho do esquecimento. Deitada sobre si mesma, levemente curvada, revela estar desarmada, entregue, seminua. Meu desejo é ser sua cama, dar-lhe repouso todas as noites, esperá-la todos os dias.
Seus noturnos suspiros lhe dão harmonia, soam como rimas, contrapontos que inundam minha alma cheia de agonia. Uma sofre, outra comemora.
Esquecendo-me da vida, dedico-me somente a viver à noite, quando minha inspiração vem à tona e eu a consumo ao vê-la desmaiada, seus seios homenageando meus olhos, atropelando meus desejos.
Minha amada sabe como aquecer minhas veias, sabe transformar em prazer minhas agonias, consagra meu encantamento. Enquanto transborda harmonia, ela me esvazia das mágoas minhas, deixando-me livre para dormir.
Escritos do Eu e Tu
© 2018 Roberto Curi Hallal