Roberto Curi Hallal

ROBERTO CURI HALLAL

DEIXANDO SAUDADES

MAIS ATOS
Desentranho argumentos, nada demove aqueles que são mais felizes fazendo que refletindo. Falta-lhes a contaminação com inspiração, tratam a ignorância como uma relíquia, buscam o segredo e a significação no ato, impregnando-se de atividades musculares que descarregam sem nada carregar. Para efeitos de contemplação, estão esgotadas as curiosidades, pois são meros movimentos efêmeros. Seus significados não ultrapassam a constatação de que por ali dificilmente passará algum pensamento, algum sinal de evolução cultural. Não se vê ali nenhum segredo detido, parece lhes faltar conteúdo e inspiração como roteiro, costuma faltar-lhes disponibilidade mental para o sentido de unidade do mundo, neles o narcisismo não ultrapassa os limites do eu, portanto, desconhecem o nós com poucas chances de reconhecimento. Seus graus de satisfação são grandes no encontro consigo mesmo, predominando uma dispersão difusa, marca que distribui sua atenção em supérfluos sem nunca concentrarem -se em ouvir ou ver. Ao sentirem-se desamparados se lhes dispara uma projeção emocional de exibicionismo, de fortaleza muscular, atitude que responde à ameaça que o uso da inteligência provoca. Trata-se da preservação da unidade, fator preponderante na constituição das suas identidades. Magnificada a força, desprezada a inteligência como suspeita. Vivem monologando com espelhos e fantasmas. Caminhos precários os conduzem entre o tempo e o abismo sem ter como escapar ao preço de avançar ao próprio destino. Morrem tristes e sozinhos de tanto adorarem a si mesmos.

Baixe o livro em PDF

brazil

Alfarrábios

© 2022 Roberto Curi Hallal