Roberto Curi Hallal

ROBERTO CURI HALLAL

LABIRINTO

TODOS DESABITADOS

Feito de ilusões, incompatível com qualquer presença, o cenário social onde estou parece algo irreal, algum encontro será uma surpresa, uma coincidência, caçam as presas, comem os frutos, todos alimentados como horda, ninguém pensa no outro, todos rezam por si mesmos, flutuam os couros, lambem a boca imperante, sem propriedade, multiplicando os corpos, as funções, ninguém tem face, até chegar a ausência total do indivíduo. São seres complexos, sem nome, sem reações, caras anônimas, orgasmos indiferenciados, unidos pela evidência do uso posto que suas vidas pertencem a todos, se entretem nos detalhes, nenhum rigor, aumentam o volume, tomam mais uma, olham na mão algo que lhes imita relações.

Não há medidor de solidariedade entre o que ri de alegria ou de euforia, nem o que está ou se foi, porque as presenças são tão efêmeras que não alcançam fazê- las presentes. O tempo vence o espaço, tudo é escasso, o momento, a obrigação, o compromisso, a memória, a diferença entre esse e aquele, o ontem e o hoje é tão pequena que nem se percebe. Não há agregados outros que os medos e os esquecimentos, há dispersões do belo, do verdadeiro, há provocação, há um otimismo eufórico não lhe dá nenhum sustentação ao gosto de manter alguma hospitalidade, alguma memória para lembre de pelo menos um nome, um olhar. Tudo e todos desabitados.

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Escritos do Eu

© 2018 Roberto Curi Hallal