MEMÓRIA A NAVE DA ETERNIDADE
MEMÓRIA A NAVE DA ETERNIDADE
Empresto minha voz aos meus antepassados, autentico seus sentimentos que reverberam no meu coração construindo memória e dando sentido à nossa cultura. Assisti mulheres e homens derretendo, desfeitos na escuridão, desconhecendo o tempo que se aproximava, incertos diante do idioma que oculta, apoderando- se dos seus sentidos, respondendo algo que eles não sabiam ler. Para acostumar-se com a vida, com a ferida, com a paixão, com a descoberta e a desaparição; para acostumar-se a não curar a saudade, para tratar presumindo que seja esta a essência da reciprocidade, para acostumar-se à mútua e compartida acolhida, presumo que todos se ofereçam para juntos lograr ser melhor. Ouçam os barqueiros, toquem seus remos, guardem as distâncias e as ribeiras, ouçam-nos em seus alertas, suas calmarias e suas pressas, tenham atenção ao seu estilo, como escolhem os cais, como usam os ventos, como flagram os riscos, como preservam as fêmeas, como garantem a reprodução, como administram seus amores à distância; Ouçam os barqueiros preservadores das espécies e das inocências.
Escritos Fenícios
© 2018 Roberto Curi Hallal