Roberto Curi Hallal

SINTO AS TUAS DORES

Um rastro do teu olhar apareceu na foto onde, distraída, revelas o que sobreviveu a ti.

Gira a meu redor um clima úmido; abundantes efeitos colaterais prometem o retorno das fúrias, ressurgidas do passado anulado, fugindo do controle em que se meteu fingindo calmarias.

A construção de um mundo onde a interação homem – máquina supera a relação interpessoal é uma fuga pela virtualidade, como se a satisfação das necessidades e as realizações na vida pudessem estar afastadas da realidade.

Perturbadores desvios impedem a fala dos ventos e das chuvas.

Estou esgotado no ritual do despertar que se apoderou do meu corpo, do meu sonho e do meu dormir.

Dando-nos sentidos comuns na ordem e no caos, desde o ponto de observação, sem antes nem depois, arrancávamos segredos, intimidades, inovações, revelávamos animalidades impensadas afagávamos novos prazeres.

Teimosamente, sinto as tuas dores em cada canto do mesmo corpo, sinto-as como se fossem minhas, o aperto no peito saudoso, a perna da cansada andarilha, o útero da leoa aposentada. Prossigo levando órgãos narradores, escondendo entre tuas queixas epidemias de desejos, eternamente insatisfeitos.

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Fracionário

© 2022 Roberto Curi Hallal