ESCREVO NO MAR
MEMÓRIAS SOBREVIVENTES
Esqueci tudo o que não me foi permitido lembrar. Vez por outra minha memória desobedece e invade alguma fresta, algum vão. Parecendo um desfile de espantadas constatações que jamais seriam possíveis de se imaginar que alguém pudesse havê-las vivido, era como parir utopias. Nelas recebi beijos de tios desaparecidos, de outros distantes que já não conseguem ter nome legível, e outros que balbuciavam coisas sem sentido. Eu apareço usando suspensórios que usaria o resto da vida. Amigos, lado a lado, sem se olharem, se comportavam como estranhos. Um desfile de lembranças impecáveis desafia a morte naquela reunião de memórias sobreviventes.
TESTEMUNHAR
Ficar perto de pessoas mal humoradas pode contagiar, testemunhar maldades pode nos fazer acostumar a elas.
Escritos Fenícios
© 2018 Roberto Curi Hallal