Roberto Curi Hallal

ROBERTO CURI HALLAL

JAMAIS ME RECONHEÇO

Volto ao passado, procuro fixar o motivo que me tornou capaz de perceber que não deveria reduzir o mundo, nem limitar minha ambição. Componho minha realidade nomeando meus afetos, atinjo lugares e pessoas, revejo sem julgar, já que não tenho o direito nem a possibilidade de modificar o acontecido. O primeiro ponto será aceitar isso. Por prudência, deixo uma certa margem para que as decepções impostas pelas limitações não me dispersem o prazer de imaginar e de reinventar um futuro repetindo o passado, combinando entre os dois, surpresas, um repertório de coisas já sentidas, reaproveitadas em fusões. Retiro personagens das cenas, incluo um tempo no outro, e assim sigo minha atividade de ir e vir, passeando entre o que sou e o que permanece em mim.

Um conglomerado de motivos causa-me uma harmonia que concilia todos os desencontros que as minhas contradições ditam. Confiro, no fundo do meu coração, o que a razão não alcança ver. A vida imprime e reúne, sem ordem, a aparição de pessoas vindas dos mais diversos lugares, cruzando histórias, procurando-se uns aos outros, alternando confrontos e decepções, esperando a hora de encontrar e manifestar a alegria guardada, congratular com os amigos, juntar-se aos que com coragem confessam sua solidão adquirida pela desistência, pelas sujeições do passado, por feridas mal curadas há mais de um tempo toleradas.

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Fracionário

© 2022 Roberto Curi Hallal