Roberto Curi Hallal

MEUS EUS E MEUS AIS

POR QUE TANTO TEMOR?

Como esta dor não cicatriza, expõe toda a fragilidade que me desatina, entra silenciosa, quieta como a noite. Chega, se faz presente, reveste o corpo com feridas permanentes. Não avisa quando chega. Tento evitar o sofrimento antecipado. Esta dor me trata, iluminando e desfiando a intromissão da novidade que insiste em apresentar-se atemporal, dando sinais da finitude. Esta dor, ora óssea, ora muscular, gengival, intestinal, abdominalmente vesical, lacrimal, apresenta-se aos gritos ou como a mudez que depura as palavras. Nega-se a aceitar-me vitalício, portanto fica decretado a partir de agora que a previsibilidade será defendida permanentemente pelo tempo de cada existência pondo avisos efêmeros por onde passe.

Provocativamente, a dor atira na cara que somos, ao invés de titulares, reservas temporais. Os fermentos que fazem crescer a soberba também põem travas nos excessos, nos orgulhos desmedidos, avisando-nos da cova comum. Não bastará para qualquer horta que se ofereça módico canteiro para ali germinar.

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Escritos do Eu

© 2018 Roberto Curi Hallal