Roberto Curi Hallal

PARTIDAS

DESCUIDOS

Há dentro de mim um guarda-roupa que insiste ficar em bermudas de linho branco, suspensórios e um sorriso de 7 anos. Ainda vejo ali uma amarelada esperança de que não acabasse o sorveteiro da esquina e o passeio diário com meu pai.

Escondido detrás de uma máscara adulta, retomo o último diálogo com minha mãe. Ainda guardo dentro de mim uma riqueza dos tempos de minha infância e adolescência em Pelotas. Ainda que tente, não consigo descrever, esse passado, haveria que inventar novas palavras e inaugurar novas orações. Trata-se do idioma que pais, filhos, infância e juventude em harmonia estabelecem, tentando adivinhar futuros, novas encadernações, novas divulgações de culturas, afetos, decepções, encontros e despedidas.

Troquei a corda do violão que pacientemente me espera há 30 anos. Cometi o extremo descuido de desprender- me do vício de aprimorar meu sentir, esqueci de atualizar meu velho diário, depositário dos meus pedaços. Voltei a ele em busca dos meus pedaços. Ali, estou ao meu alcance.

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Escritos do Eu

© 2018 Roberto Curi Hallal