O MILAGRE DE ANIMAR
Digo, comovido: os benefícios colhidos saíram como águas fora do seu leito, e germinaram. Alegrias espalharam-se pelos velhos e conhecidos caminhos, caprichosos movimentos foram usados para inovar a graça e o brincar. Um tom de festa expressa o que não cabe mais dentro de mim; o milagre de animar distribui contentamento, tumultua o sossego, cria alarde na monotonia, deixa mais leve e mais fácil a tristeza. Reúne, concilia, atrae.
O atual humor de reunir todos maus humores no corpo reanima o sonho de envelhecer sem decadência. Uma imensa e comum esperança rege a fantasia em muitos de meus momentos. Sabendo-me de sua inutilidade, nada me impede de reanimá-la, de tempo em tempo.
Ainda assovio quando só, visando fazer-me companhia com um ruído que possa controlar meus medos infantis, encravados e permanentes. Cato lembranças que imponham armistícios. Confirmo a vontade de ocupar esses vazios.
Desvendo o amanhã que me garanta menos perdas e quase nada de mistérios, que eu possa sondar e prever tudo o que poderei perder. Tento erguer o futuro para vê-lo mais nítido, mas o tempo não me concede o saber. Esse meu amor não entende de realidades, voa em direção aos enigmas inventando certezas, tentando dar forma humana aos sonhos e feição ao imponderável.
Fracionário
© 2022 Roberto Curi Hallal